Jeito Salesiano de Educar

Dom Bosco arrastou com sua paixão um mundo de gente. A primeira de todas foi Maria Mazzarello. A ele e a Mazzarello se uniram alguns adolescentes e jovens que foram chamados de “salesianos” e “salesianas”. No final, saiu uma história significativa, que encheu de vida e de esperança uma infinidade de pessoas. Os adolescentes e jovens que chegavam a Valdocco e a Mornese se sentiam imediatamente envolvidos por um clima de espontaneidade, de alegria e de festa que contagiava, à qual não se podia resistir por muito tempo.

Esses adolescentes e jovens descobriam continuamente que Dom Bosco e Madre Mazzarello eram o rosto misericordioso de Deus (Cf. Papa Francisco, Bula do Ano da Misericórdia, 2015) e um modo concreto de proclamar para eles o Evangelho das bem-aventuranças. Em Valdocco e em Mornese, respirava-se algo que vinha de muito longe. O ambiente educativo- -pastoral ali vivenciado era fruto da paixão de salesianos, salesianas e de educadores pelos adolescentes e jovens, pelo seu crescimento na alegria, na liberdade, no compromisso com o outro. Era expressão de um grande amor a Deus e à vida.

Desta forma o jeito salesiano de educar, a metodologia utilizada é pautada no Sistema Preventivo, o tripé da vida salesiana.

Razão: é a capacidade de discernir, de compreender o que acontece, de agir com bom senso, na busca pela verdade e no cumprimento responsável dos deveres. Pela razão, formam-se as convicções, a clareza de ideias, a correta escala de valores, a maneira de tratar as pessoas, o senso de responsabilidade, de modo que o pensar criticamente propicia um jeito de agir mais assertivo. Nesse sentido, Sberga (2014) sinaliza que a razão orienta para o bem pensar, por meio da fundamentação das teorias das ciências humanas e das ciências da natureza, assegurando, aos jovens, competências que formam conceitos corretos, opiniões claras e juízos verdadeiros, diante das circunstâncias da vida. Reforça, ainda, que a razão contribui para que os jovens compreendam o valor das normas, das regras sociais, da ética, da retidão, da coerência e da cooperação. É valorizada a fim de que os jovens tomem posições mais conscientes diante dos fatos da vida. Portanto, a razão desenvolve-se na convivência com os outros, por meio da dialogicidade, formando a pessoa a fim de que aprenda a dialogar com serenidade, a acolher o diferente, a assumir com humildade os próprios limites, a comunicar-se com liberdade, a julgar com critérios e a decidir com responsabilidade. Agindo com essa razoabilidade, realiza-se a prática dos bons hábitos, que formam o caráter e a sabedoria de vida.

 

Religião: é a abertura para perceber a presença de Deus, que se manifesta no cotidiano da vida, trazendo paz ao coração e propiciando, também, experiência de acolhimento, alegria, felicidade, proteção, bondade, ternura e salvação. Concordamos com Ferreira (2008) ao afirmar que a religião torna mais robusta a vida de graça e de santidade. “A religião do Sistema Preventivo é a religião da 'boa nova' do Evangelho, das bem-aventuranças de Jesus, que nos chama de amigos e não de servos, que nos convida a buscar o Reino de Deus e a sua justiça, que está conosco e age conosco todos os dias até o fim do mundo”. (NANNI, 2014, p. 34). Essa se constitui, também, na religião do humanismo de São Francisco de Sales, que aprendeu de Deus a ser amável, paciente, alegre, bondoso e sempre pronto a perdoar. Além disso, pertence a esse tripé do Sistema Preventivo a prática dos valores e direitos humanos, sobretudo da solidariedade e da fraternidade. A religião não é uma prática impositiva, pois é na liberdade que o jovem tem a possibilidade de viver em comunidade experiências profundas e alegres de oração e ação litúrgica, as quais proporcionam o que Dom Bosco pretende como lema para os jovens: “formar o bom cristão e o honesto cidadão”. (LOME, 2005, p. 34).

Amorevolezza: “é amor demonstrado, por isso amor afetivo e efetivo, confirmado pelos fatos, perceptível e percebido [...]. É o traço mediante o qual se manifesta a própria simpatia, o próprio afeto, a compreensão e compaixão, a co-participação na vida dos outros”. (BRAIDO, 1999, p. 269). Assim, ressaltamos o que Dom Bosco deixou escrito a todos os salesianos, hoje extensivo a todos os educadores: “Procura fazer-te amar, mais do que fazer temer-te”. (LEIMOYNE e AMADEI, 1939, p. 452), porque o amor deve ocupar o primeiro lugar na ação educativa, já que é com o coração amante, terno e generoso que um educador deve realizar o seu importante ministério. Nessa direção, é pela via do afeto, do respeito, da cordialidade e da valorização que o educador encontra abertura e acolhida por parte do jovem. Dessa forma, recordamos com Ferreira, que “a educação é coisa do coração, e ganhar o coração do jovem é a condição essencial para que se consiga trabalhar na formação dele”. (2008, p. 12). Ainda, reafirmamos com Sberga (2014) que, dentre os três princípios do Sistema Preventivo, o amor é o que tem a supremacia, pois define e determina a relação educativa e o fim do processo formativo. O amor é a síntese pedagógica dos princípios, pois se os jovens sentirem-se amados nas coisas que lhes agradam, estarão disponíveis a fazer com amor aquilo que o educador lhe propõe, ou seja, o pleno cumprimento de seus deveres.